Eis um relato do quotidiano do Bonfim, onde o limiar que separa o turismo da vida familiar e comercial é muito ténue.
Uma fotografia, tal como o som, tem uma conotação de tempo e de duração implícita. Esta narrativa visual mostra o tempo captado pelos sons absorvidos.
Ao circular pela freguesia encontramos vestígios duma, outrora, zona industrial, dos antigos operários e das ruínas fabris. As habitações e os seus conceitos surgiram muito desta atividade económica e da necessidade de aproximar geograficamente uma classe média-baixa ao seu local de trabalho.
O contraste das ruas denota-se, atualmente, entre os luxuosos e antigos palacetes, inspirados noutras culturas arquitetónicas da época, as estruturas para pequenos comércios e serviços, os novos lares, bem como a reabilitação dos edifícios – chamemos-lhes, sem grande crítica, constantes empreendimentos.
Porém, o Bonfim é sobre pessoas. A ligação humana com as formas da arquitetura, as luzes, a história. As rugas da mudança e do crescimento, ao longo dos anos, são visíveis no património antigo que recupera a memória e a tentativa de modernização do mesmo. É vasto o dinamismo nas ruas, nas casas, no comércio, adverso à calmaria de um ou outro canto deste pedaço de Porto.
Ao falar-se desta atividade e agitação, instintivamente temos uma imagem mental sonora de um burburinho, um ruído citadino e a ação da presença humana num meio. Foi a querer descobrir esses sons e a dar-lhes uma visão que saí às ruas entre a Campanhã, o 24 de Agosto, o Marquês e a Fernão Magalhães. Os sons recolhidos marcam texturas temporais, de momentos ordenados e desordenados que transcrevem a vida daquele lugar.