REPRESENTAÇÃO VISUAL DE Lo-Fi Moda

#1 Vem Nadar Ao Mar Que Enterra

Vem nadar ao mar que enterra
Afogar na mágoa a regra
Sofrer por sonhar, nadar
Vem tentar chegar, falhar

Vim buscar o longe ao perto 
O mar também é deserto
Onde eu me vim banhar
Na água do meu chorar

Vem molhar os pés na areia
Vem secar a maré cheia
Para só poderes lembrar
Um deserto que era o mar

Vim buscar a minha herança
Esperar nada com esperança
Só areia para agarrar, vem tentar

Sou capaz
Incapaz
Como o mar
Onde estás
Faz um nó
Cego e só

Quando o mar então secar

#2 Ctrl + C ctrl + V

Preto no branco
Afiando-me a estas horas
Aliviando
Todo o peso foi embora

Preto no branco
Não tão claro como achava
Acizentava
Tudo o que me contornava

E agora?

Eu já perdi a minha lábia há bué de tempo
Já não pago às pessoas a quem me vendo
Se estou pior, não estou por cá, sei bem porquê
Ouvir a ‘Não há amor em SP’

E eu cativo o meu lugar com o meu talento
Já não pago às pessoas a quem me vendo
Escrever ctrl + C ctrl + V
Ouvir a ‘Não há amor em SP’

Preto no branco
Escrevo, a tinta não apaga
Ela obrigada
Agradeço a sua farsa

Preto no branco
Tento encontrar o que penso
Sinto-me imenso
Sem fronteira, nada fora

E agora?

Passo a passo paraliso
Mas eu faço o que é preciso

#3 Circle J

Faz tanto frio na rua
Habitua
Estrelas à noite
Nenhuma me segura

São bués à procura
Man, tou sem nada, na secura
E é trademark tuga
Paleio para abafar um beat chunga

Verdade vem ao de cima
Fumo, inclina
Preferes companhia
Prefiro a minha

Nunca confiar em ninguém
Nunca confiar em ninguém

Básico, circle j empático
Sabez, self-obcess práctico

Nunca falei dos meus filmes
Nem preciso que mos queiram ouvir
Man, para multidões de jerks não desfilam

Tragam-me outra ponta desta fila
Porque outra sílaba se inclina
Fui dividido à partida pela cena que um dia seria vida

#4 Fa Zer Vu Du

Conto em mim tão pouco tempo
Calculando nem aprendi a contar
(Tão pouco tempo e tanto riso acompanhado de uma dúvida)
Emergi tão indiferente
Conspirando só para contrariar
(Tão indiferente que o que sinto transparece de vulgar)

Mesmo assim, um dia és tu
Quem cai em si, fazer vu du
Quando se faz do fel maré
O rio mexe, à margem

Chega, enfim, o bom tempo
Tantos Maios ainda por apreciar
(Todo o bom tempo é tido em alegria por usar)
Emergiu tão diferente
Dos dias de Inverno atirados ao ar
(Diferença fresca ainda da mudança por fechar)

Mesmo assim, um dia és tu
Quem cai em si, fazer vu du
Quando se faz do fel maré
O rio mexe, à margem

Mesmo assim, um dia és tu
Quem cai em si, fa zer vu du
E se fazes do fel maré
O rio foi, a margem é

Voltei cedo, madrugada
Já fiz tudo, não vi nada
No silêncio da vaidade
Deixo-me pela metade

Venha o som de outra chegada
Nasce o dia e à noite acaba
Outra noite, uma assentada
Chega a luz, não vejo nadam

#5 raicevic.Als

Sempre tão incerto
Não sei do quê
A estrada está lotada
De sinais que ninguém lê

Certo em cada gesto
Não querer saber
Como pedras negras
Tão severo de beber

Aperta-me a mão, diz:
Tá tudo, e quê
Tão poucas palavras
Tanta gente para as dizer

Minto em cada riso
Mas tem de ser
As regras não estão escritas
Mas são para obedecer

Despretensão
Tantos putos na fila
E a dizer que não
Que dedicação

Não quero ser desbocado
Parecer deslocado
Mas esta medicação
De ser vizinho do lado
Está a irritar um bocado

Chapa 3

#6 Púrpura Pálido

Que perspectiva te falha?
Fina curvatura, fio de navalha

Eu já conheço essa cara
Séria. Esboça o rosto onde se perde a minha tara

Estar só não sabe a nada
Dizer que estou errado mas saber que é uma piada

Ver-te de costas, voltada
Não queres que eu lhes toque nem queres que não repare

#7 «»

Sem julgar tudo aquilo que me surge como maior do que é

Fazer parte de um papel
Só faz parte do papel

Não parar é apenas ter metade do conforto deste chão
E quê? Nunca apreciar o verão
Nada está nas tuas mãos

Sem saber, morri na pauta dos sons que são prisão

As palavras no papel
O silêncio no papel

Escrevo, então,
Convencido de que posso chegar a ti
E assim, talvez bata, talvez não
Nada está nas tuas mãos

#8 Frito Futuro

Tiro o sumo da palavra (Mais alto)
Dá-me a data do despejo (Muito forte)
Bate a hora de chegada (Mais alto)
Perco o meu pretexto (Muito forte)

Meto gota à madrugada (Mais alto)
Tanta pressa para o desfecho (Muito forte)
A partir de agora pagas (Mais alto)
Nunca falar de dinheiro (Muito fora)

Sou pedestre num passeio
Uma cor no tabuleiro
Com mais um dedo do meio
Que eu pouso num cinzeiro

O barulho não é feio
Vibra pelo corpo inteiro
Multiplica-se mais alto
Nunca fala de dinheiro

Estou tão farto do que odeio
Por vezes eu anseio
Deixar a vida a meio
Meio vivo, meio cheio

Meio vivo, meia arte
A pensar que vivo aparte
Talvez viva um bocado
Talvez só viva errado

#9 Contra

Alinhou-se tudo em mim
Queria eu que fosse assim
Tenho jeito para mentir
Falar do que está por vir

Quero-me lembrar feliz
Corto o que não quero ouvir
Falta açúcar no parecer
Se é mentira eu vou saber

Foi bom chegarmos aqui
Pelo menos eu curti
É uma festa e temos de ir
E é desculpa para fugir

Alinhou-se tudo em mim
Ou devia ser assim
E viver só ver para crer
Agito antes de beber

Letras
António Costa e Bernardo Barbosa

Música
Ermo

Imagens
Natércia Machado

Projeto “antropologia de imagens:
movimentos e ligações”,
História e Teoria da Imagem,
MESTRADO EM DESIGN DA IMAGEM,
FACULDADE DE BELAS ARTES
DA UNIVERSIDADE DO PORTO,
DEZEMBRO 2022

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